Espreitar o abismo é espreitar as próprias entranhas. Vagar
no labirinto das próprias vísceras, nas circunvoluções e canais, no rio que
segue por cada ramificação, banhamo-nos no nosso próprio sangue, enterrados na
medula dos nossos esqueletos. Em impulsos elétricos e químicos que acordam
nossos nervos e em movimentos peristálticos que empurram a nossa merda, perceber
o corpo adormecido, dentro do corpo consciente.
Espreitar o abismo é espreitar dentro, não fora. Não é perscrutar
os espaços infinitos que aparentam estar alhures, num universo apartado do
corpo. É apreender os infinitos
interiores e perceber que não existe dentro e fora, nunca existiu.