domingo, 5 de março de 2017

ESPREITAR É PRECISO

Espreitar o abismo é espreitar as próprias entranhas. Vagar no labirinto das próprias vísceras, nas circunvoluções e canais, no rio que segue por cada ramificação, banhamo-nos no nosso próprio sangue, enterrados na medula dos nossos esqueletos. Em impulsos elétricos e químicos que acordam nossos nervos e em movimentos peristálticos que empurram a nossa merda, perceber o corpo adormecido, dentro do corpo consciente.


Espreitar o abismo é espreitar dentro, não fora. Não é perscrutar os espaços infinitos que aparentam estar alhures, num universo apartado do corpo.  É apreender os infinitos interiores e perceber que não existe dentro e fora, nunca existiu.